Desde o início do ano, 20 baleias jubarte encalharam no litoral brasileiro. Os dados são do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), responsável pela proteção da espécie no Brasil, em cooperação com o Ibama.
Desse total, 12 animais encalharam no estado da Bahia, cinco no Espírito Santo, um no Rio de Janeiro, um em Santa Catarina e um em Alagoas.
Segundo a diretora do Instituto Baleia Jubarte, bióloga Márcia Engel, desses 20 animais, somente um encalhou vivo. "Foi um filhote em Guarapari (ES) e morreu pouco depois do encalhe. Pelo tamanho do animal, com 3,64 metros, devia ser um prematuro". Ela informou que no ano passado cinco animais encalharam vivos, mas nenhum sobreviveu.
O mês de setembro é o que concentrou maior número de encalhes, seis. Em julho e agosto foram registrados quatro encalhes em cada mês, num total de oito. Na primeira quinzena de outubro foram registrados quatro encalhes. Dois encalhes, um em janeiro, e outro em fevereiro, ocorreram fora da temporada de baleias jubarte no Brasil.
Durante o verão, as jubarte se alimentam nas águas da Antártida, e migram para as águas tropicais do litoral baiano, para reproduzir e amamentar os filhotes, entre os meses de julho e novembro. Dos animais que encalharam este ano, dez eram filhotes que ainda estavam mamando, quatro eram adultos, e seis não possuíam dados precisos de comprimento.
O coordenador de pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, veterinário Milton Marcondes, explica que o encalhe pode ser definido como: "qualquer mamífero marinho morto na praia ou flutuando próximo à costa; qualquer cetáceo vivo na praia ou em água tão rasa que não seja possível para ele se livrar sozinho e retomar suas atividades normais. O encalhe ocorre quando estes animais chegam próximos às praias ou arrebentação e não conseguem se libertar sozinhos".
Márcia destaca que as baleias fazem parte da chamada megafauna carismática, animais de grande porte que despertam a atenção e carinho por parte das pessoas. "As campanhas Salvem as Baleias realizadas nas décadas de 70 e 80 no mundo é um exemplo disso. Uma baleia encalhada desperta a atenção da população e a cobertura da mídia, principalmente televisiva, gera a necessidade de uma resposta pronta para o resgate", afirma.
O veterinário do IBJ, que participa das operações de resgate de cetáceos, ressalta que mesmo que parte dos resgates não obtenha sucesso, "isto não inviabiliza o valor da tentativa em si, desde que esta seja feita de maneira responsável. Embora a morte de uma baleia gere comoção, se todos os esforços para salvá-la foram feitos, existe um reconhecimento público pelo valor da tentativa". Ele informa que durante o resgate são tomadas medidas para minimizar o sofrimento do animal.
Nos resgates bem sucedidos, quando o animal é devolvido ao mar e não volta a encalhar, "existe o benefício para o animal em si, para a espécie, e a satisfação pessoal da equipe de resgate e o atendimento ao anseio popular", disse ele.
Causas do encalhe: As causas do encalhe podem ser de origem diversas, como: ocorrência de doenças; a fuga de predadores ou a perseguição a presas; o emalhe em artefatos de pesca ou a colisão com embarcações; condições climáticas adversas (tempestades, furacões) e condições topográficas e oceanográficas (variações de maré, praias de relevo plano); a coesão social (comportamento de manter o grupo unido - podem fazer com que animais sadios acompanhem outros doentes até à praia); entre outros.
O veterinário alerta que um animal encalhado é também um risco para a saúde pública. Ele observa que a curiosidade da população, em relação às baleias e golfinhos encalhados, faz com que muitas pessoas tenham contato com animais vivos ou carcaças em decomposição. Muitas doenças podem ser transmitidas por estes animais ao homem.
O atendimento aos animais encalhados deve ser feito por profissionais especializados. No caso de animais vivos, os técnicos podem realizar trabalhos de informação ambiental para a população.
Para a diretora do IBJ, um dos fenômenos com maior poder de sensibilização nas pessoas é o encalhe de uma grande baleia viva. "Um animal tão grande e indefeso sofrendo, costuma sensibilizar as pessoas e causar uma grande mobilização, sejam de curiosos, querendo observar mais de perto um animal raro, ou de pessoas querendo auxiliar no resgate".
Os encalhes individuais de animais vivos são raros. No Brasil, a baleia jubarte é uma das espécies mais estudadas. Há 17 anos, o Projeto Baleia Jubarte é responsável pela proteção da espécie no País.
Em 1996, deu origem ao Instituto Baleia Jubarte, onde realiza trabalhos de pesquisa e conservação da espécie, além de prestar apoio às comunidades litorâneas com atividades de educação ambiental. A baleia jubarte consta da lista do Ibama de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção.